Domingo em Belém do Pará. Aquelas nuvens negras, carregadas, aquele chove ou não chove enjoado, indeciso. Almoço em família, feijão na mesa, todos juntos. Tudo parecia normal… E seria, se não fosse por um detalhe: é domingo de RExPA no Mangueirão. O suficiente para mudar a rotina de uma cidade inteira.
Decidi sair do conforto do meu sofá e fui viver o Clássico-Rei da Amazônia, que já decidiu títulos e hoje se reserva a medir forças fracas. Mas o que a gente absorve de um RExPA, vendo e ouvindo, nos coloca em um universo de elite, sem dever nada a um FLAxFLU. Pena, para duas torcidas igualmente pulsantes e merecedoras de algo mais dentro de campo.
E é ao que aconteceu fora de campo que eu vou – prefiro – me restringir. Eu sei que muitos jornalistas, pensadores e críticos de quintal já escreveram sobre este jogo, em tempos áureos de 1ª Divisão e, com mais sorte do que eu, conseguiram mostrar belezas e tortuosidades da história de 710 encontros. Mesmo assim, acredito que a experiência é sempre válida, ainda mais sendo a primeira.
Desde a minha casa, na Campina, o clima era diferente. As ruas em direção ao Mangueirão ficavam cada vez mais apertadas, estreitas para tantos carros, buzinando, cobertos por bandeiras e cheios de torcedores. Torcedores que, em um piscar de olhos, como formigas, se tornaram trinta e poucos mil. Duas e quarenta da tarde: “Ih, vai dar pouca gente”; três da tarde: “Caramba, lotado”.
Quem disse que futebol não é mais programa de família? Mães, filhos, crianças e senhores, homens e mulheres. A camisa? Azul, marinho ou celeste, além de variados times e seleções. Futebol é futebol, aqui ou acolá. Todos torcedores, apaixonados, em busca de um domingo que começou há uma semana.
Os dias anteriores ao RExPA são cheios de mandingas, secadores e prognósticos. “Vocês vão apanhar de novo do Papão”, “Quatro a zero Leão”, coisas do tipo, coisas de torcedor. No caminho, hoje, muitos foram barrados pela polícia. Se eram bandidos ou não, se os policiais eram bons ou não, o saldo foi positivo. Nenhuma confusão.
Pra acompanhar, um dilúvio digno de verão parauara. Chuva forte, raios e trovões. Além disso, a guerra sonora das torcidas, o ímpeto de ser melhor que a outra, num diálogo tão amigável, tão cúmplice, que contradiz o significado da disputa, da competição. Corrente, osmose, loucura. Contagia e envolve até mesmo quem torce pra Tuna.
Preferi falar sobre o extracampo pois o jogo não foi bom, nem mereceu gols. Raros são os jogos que protagonizam o domingo de RExPA, ultimamente. A experiência foi mais rica, e serviu para eu entender que, mesmo se Remo e Paysandu vivam em um calvário no futebol nacional há anos, seus fiéis seguidores nunca irão os abandonar. Vão ao estádio para xingar, para gritar, para ser técnico e comemorar. É isso que faz um verdadeiro torcedor.
Remo 0 x 0 Paysandu Taça Estado do Pará, 5a Rodada – 16hs – Mangueirão
GUSTAVO FERREIRA, 19, em seu primeiro RExPA.