Hebe

Quem nunca quis sentar no sofá dessa mulher? Quem nunca desejou, por um momento, estar ali, entre os convidados, em um cenário cheio de sofisticação e leveza, discutindo qualquer coisa, desde a Guerra do Golfo até o preço da cesta básica? Quem nunca desejou ser neto dela? Ou filho, ou bisneto, ou apenas o camareiro, assistente de câmera, produtor? Quem nunca quis saber como foi estar ali, na primeira transmissão de TV no país, quando nem seus pais eram nascidos?

Quem nunca achou que seu cabelo era peruca? Quem nunca tentou imitar o “gracinha” dela? Quem nunca assistiu um de seus programas? Quem nunca pensou que ela era mais velha que o Niemeyer, ou que ela esteve na Santa Ceia? Quem nunca desejou um abraço e uma gargalhada dessa jovem senhora de 83?

Quem nunca pensou que nascer em um 8 de março era o destino querendo homenageá-la? Quem nunca vislumbrou estar no palco onde ela viveu e cresceu? Quem nunca desejou trabalhar com televisão nesse país, e conhecê-la, nem que fosse por uns preciosos minutos? Quem nunca a usou como exemplo de mulher elegante, charmosa e forte?

Quem nunca admirou a sua coragem em encarar um câncer, e bater pé com ele? Quem nunca imaginou o quanto essa idosa sofreu, e como ela conseguiu dar a volta por cima? Quem nunca soltou um “que bom que ela voltou”? Quem nunca a viu se jogando no chão, feito um moleque, gritando, pulando com a meta alcançada no Teleton?

Quem nunca a chamou de “velha assanhada”, “velha saidinha” ou “velha qualquer coisa”? Quem nunca pediu aquele selinho tão famoso? Quem nunca riu com ela, chorou com ela, se emocionou por ela?Quem nunca concordou ou discordou com ela? Quem nunca quis estar ao lado dela? Quem nunca quis ser Hebe Camargo?