Hoje chega ao fim o maior frisson da história das telenovelas dos últimos tempos. Depois do Jornal Nacional, Carminha vai decidir o rumo dos principais personagens de Avenida Brasil, a obra-prima de João Emanuel Carneiro. Em sua segunda novela no horário nobre da Globo – a quarta na casa –, o autor soube como cativar a audiência, em sete meses de trama. Avenida Brasil conseguiu se tornar o assunto do momento no país, mesmo em tempos de julgamento do Mensalão, e o Repórter E tentou descobrir o que deu tão certo na novela. Será que foi tudo culpa da “Rrrrrita”?
O POVO NA TV João Emanuel não inventou a pólvora na trama principal de Avenida Brasil. Vingança é clichê novelístico desde que Hebe era viva. O que o autor conseguiu fazer foi mudar o cenário e, com isso, trazer sua novela ao nível do povão, sem empobrecer o texto, nem o desenrolar da história. Muito pelo contrário, essa foi a estratégia mais inteligente de fidelizar o público: transformar Avenida Brasil em um espelho.
Você aí, dona-de-casa, mãe de cinco filhos, conseguia se imaginar naqueles tranquilos e podres de chiques banquetes de café da manhã, como nas novelas do Manoel Carlos? Se não via, ao menos se imaginava. Essa era a Família Tufão, a nova família brasileira, que almeja a riqueza, mas não perde a essência. Pessoas da classe C, vivendo em um bairro de classe D, mas em uma mansão faraônica. Nada de empresas, nem grandes herdeiros. O bacana da novela era um ex-jogador de futebol, o bairro tem um time na terceira divisão do campeonato carioca, é comércio, é piriguete, é pagode, é funk, é todo mundo falando ao mesmo tempo. Isso é o povo.
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“Eu quero ver tu me chamar de amendoim” (ZÉ, Ze). |
#OIOIOI Avenida Brasil foi uma novela que deixou muitas marcas no imaginário popular do século 21. Faz tempo que outros atores já congelavam seus atores no fim de cada capítulo, mas depois de março, virou hit. A internet ajudou muito, inclusive. A HIHIHIsadinha de Nilo, dentre outros memes, que vão ficar no arquivo infinito de pérolas da web.
Porém, nenhum outro representou tão bem a novela como o bendito “Oi Oi Oi”, do tema de abertura. Virou hashtag, trending topic, vírgula nas mídias sociais, e serviu até para indicar qual era o capítulo da noite. Santo Twitter!
ESCALAÇÃO Dentro desse cenário mais que Divino, um elenco de peso. Veteranos, Marcos Caruso, Eliane Giardini, José de Abreu e Vera “Lucinda” Holtz mostraram que o tempo só apura o talento. Gente nova, como Ísis Valverde e Juliano Cazarré, brilharam e mostraram que o futuro será promissor. Cauã Reymond foi muito bem, bem como Letícia Isnard, a revelação da novela. Marcello Novaes finalmente se livrou do estigma de Raí, de Quatro por Quatro(1994) – e ganhou o estigma de Max. A pequena Mel Maia merece palmas. Débora Falabella também convenceu, e Murilo Benício surpreendeu com um ingênuo, mas não caricato Tufão. Agora, nenhum desses conseguiu ser maior do que uma personagem.
CARMINHA A alma da novela, nas palavras do próprio autor. Adriana Esteves no melhor papel de sua carreira, entregou uma raiva verdadeira à sua Carminha, uma mulher cafona e altamente destemperada. Dona da história em Avenida Brasil, Carminha foi aos extremos, sem beber na fonte de Soraya Montenegro. Apontou a arma, foi alvo e conseguiu, assim, entrar na galeria das maiores vilãs da teledramaturgia nacional. Lá estão a Bárbara de Giovanna Antonelli em Da Cor do Pecado (2004) e a Flora de A Favorita (2008). As três do mesmo autor. Coincidência?
Cenas nos anais da televisão, fotografia impecável, imagens mais tremidas, mais reais, abuso de planos longos, direção de primeira, texto de João Emanuel Carneiro, atuações de gala. Esses e mais motivos tornaram Avenida Brasil o assunto do país nos últimos meses. Que Gloria Perez sabe escrever sucesso atrás de sucesso, o público sabe. Agora, conseguir superar a turma do Divino vai ser tarefa árdua. Salve Gloria!