Desfazendo as malas

Cá estou eu tentando resumir em algumas linhas o que foi a minha primeira viagem internacional. Sempre gostei de viajar, mas só pude saber de fato o que é isso aos 17 anos quando me aventurei com alguns amigos para a Ilha de Marajó, aqui no Pará. Depois disso vieram os congressos da faculdade e eu aprendi a me virar no Rio de Janeiro com menos de R$ 100 e em Porto Alegre com a caridade de quem me detesta (mentira, encontrei pessoas incríveis). Mas não sei dizer exatamente quando começou essa paixão.
Palácio Real de Madrid, a residência oficial do Rei da Espanha.
(Foto: Acervo Pessoal)

Viajar. Nada mais é do que ir para fora, buscando olhar para dentro. Em outras palavras, acho que gostamos de viajar, de ver de perto o desconhecido, para ver nosso próprio interior. Já reparou que é durante as viagens que a gente desacelera e reflete sobre um bando de coisas que o cotidiano não nos deixa refletir? Viajar nos torna mais tolerantes, mas abertos ao que é diferente, mais sábios, mais jovens. Todo mundo merecia fazer isso ao menos uma vez por ano.

Conhecer a Espanha (e de quebra a Suíça e a Alemanha, quem diria!) foi como realizar um sonho daqueles que a gente chama de “impossível”, “inalcançável”. Além de ter a oportunidade de estudar em uma das universidades mais conceituadas e antigas da Europa, passei por situações um tanto desafiadoras, fiz amigos, ouvi histórias, contei também, falei outro idioma, comi outra comida, senti saudades, morri de frio, segui outras regras, registrei tudo pelas lentes da câmera e da memória. Vou levar para a vida inteira. E mesmo que eu faça mil viagens a outros países, essa foi a primeira. E a primeira vez, realmente, a gente nunca esquece.
Assim que chegamos a Madrid no dia 7 de janeiro, fomos levados a Ávila, uma cidade medieval que ainda preserva a muralha de 2,5 km de extensão. Estar ali era como estar em um filme (já repeti isso tantas vezes que me sinto envergonhada, mas a verdade é essa) e eu realmente achei que nada mais me encantaria, até conhecer Toledo. Antes mesmo de descer do ônibus eu já estava maravilhada. Todo mundo merecia visitar Toledo ao menos uma vez na vida. No dia seguinte, eu e mais duas amigas aproveitamos uma folga e fomos a Madrid. Já contei aqui como foi a nossa aventura e sobre a minha corrida pelo Pradopara ver Las Meninas antes que encerrassem as visitas. Resumindo o que achei da capital espanhola: eu moraria lá.
A muralha que cerca Ávila é a maior atração turística da cidade. (Foto: Acervo Pessoal)
Visão da entrada da cidade de Toledo. (Foto: Acervo Pessoal)
Salamancae os salmantinos nos receberam de forma fria, 0° eu diria. Mas, à medida que eu desvendava os segredos daqueles muros de pedra e dos rostos fechados, eu ia entendendo melhor um processo de construção cultural que ia além do que eu achava que era certo ou errado no modo de receber estrangeiros na cidade. No decorrer dos dias me adaptei tão bem que as pessoas já não me olhavam enquanto eu andava na rua, o que interpretei como um “é uma de nós”. Mesmo assim, eu seria terrivelmente injusta se dissesse que fui mal recebida, ao contrário, tanto nos lugares onde estávamos alojados e onde estudávamos quanto em lojas, restaurantes e bares fomos atendidos de forma bastante simpática pela maioria dos espanhóis. Ou pelo menos pelos que entendiam que um país em crise precisa de turistas que gostem de fazer compras. E essa, meus amigos, é uma das coisas que nós, brasileiros, fazemos de melhor.
Salamanca também é conhecida como “La Dorada” (ou Cidade Dourada) e já foi eleita pela UNESCO como Patrimônio Histórico da Humanidade. O apelido foi atribuído à cor que os prédios apresentam ao refletir a luz do sol no fim da tarde. (Foto: Acervo Pessoal)
Também já falei das minhas peripécias rumo à Alemanha e como fui parar em Zurique, na Suíça sem falar nem inglês direito quanto mais alemão (agora aprendi a lição e estou estudando pra valer, ok?). Está aí um lugar que eu nunca pensei em conhecer, mas que se tornou uma das minhas histórias favoritas. Por fim, cheguei a Essen, a cidade onde Adolf Hitler costumava passar as férias, segundo me disseram lá. Uma das regiões mais ricas da Alemanha, com poucas marcas do holocaustoporque foi estrategicamente preservada na época em relação ao que estava acontecendo no restante do país. Além de confirmar o que eu já sabia sobre o fato de os alemães não gostarem de tocar nesse assunto com ninguém, soube que uma parte do país paga um imposto bem legal (imposto bem legal, hehehe) para outras áreas. É uma espécie de “imposto da fraternidade” em prol das regiões mais carentes. Bom, eu adorei os alemães! E o idioma deles é tão bonito de se ouvir (quero aprender, inclusive), outro estereótipo que eu quebrei, graças a Deus.
Dia de neblina em Zurique, o que impediu de registrar
os montes cobertos de neve ao fundo.
(Foto: Acervo Pessoal)
Mas no intervalo de uma foto e outra eu confesso que não via a hora de voltar (que é isso, tá doida, menina? Tu estás na Europa!). Sério. Sabe Dorothy, você tinha razão, não há lugar como o nosso lar. A estrada é necessária para o crescimento pessoal e profissional, para expandir os horizontes, para tanta coisa… Para sentir saudades e valorizar quem e o que ficou te esperando voltar. A família, o amor, os amigos, o cantinho da casa, o feijão com arroz e farinha de mandioca. Parece contraditório, mas faz todo o sentido. A melhor parte da viagem é a volta pra casa, parceiro. E no fundo todos nós sabemos disso.

Hasta luego, Salamanca! (Foto: Acervo Pessoal)
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