Os sons da feira em exposição no Ver-o-Peso

Evento promove o encontro das pessoas com o que passa despercebido por elas no cotidiano das feiras de Belém. Audioexposição será montada neste fim de semana.

Gustavo Ferreira

Cartaz EDIT
Cartaz da audioexposição que será montada neste fim de semana em Belém. (Arte: Luiz Sepeda)

As feiras são espaços de cruzamento de caminhos, de fluxos intensos, de linguagens híbridas, de movimento. E às vezes todo esse movimento é incorporado pela rotina do cotidiano. Mesmo com muito a ver, não vemos nada. Mesmo com muito a ouvir, não ouvimos nada. E são justamente esses sons que passam despercebidos os objetos da audioexposição “O Corpo Sonoro da Feira: Cantos do Ver-o-Peso”, que amanhã (19) e sábado (20) vai convidar cada um de nós a observar melhor a cidade e suas dinâmicas.

Essas dinâmicas que se estabelecem entre os vários atores do Ver-o-Peso foram o ponto de partida do pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) Rafael Sales, coordenador do projeto, selecionado no Prêmio Proex de Arte e Cultura 2014 da instituição. “O interesse por paisagens sonoras parte de pequenas observações do cotidiano da cidade, principalmente de como um determinado espaço pode mudar radicalmente seus sons em diferentes momentos do dia e o quanto isso pode refletir diretamente na forma de relação das pessoas ali. No decorrer de um curto tempo isso acabou se transformando em uma atrativa possibilidade de pesquisa na área da qual estou mais próximo, a Antropologia”, explica Rafael.

RAFAEL SALES
Rafael Sales, coordenador da exposição. (Foto: Acervo pessoal)

A partir dessas inquietações e de conversas com professores e pesquisadores da universidade, Rafael partiu para uma série de imersões e observações em um espaço escolhido pela história que carrega, o Ver-o-Peso. Lá Rafael começou a desenvolver a pesquisa, trabalho que durou um ano, e que contou com uma equipe e suas visões de mundo que redimensionaram e afinaram a pesquisa. Além de Rafael na pesquisa e captação de áudio, o grupo é formado por Luiz Sepeda (fotografias e identidade visual), Wallace Horst (cenografia), Armando de Mendonça (arte sonora e edição de áudio), Cleber cajun (grafites) e Tereza Maciel (narração poética).

São pessoas com olhares diferentes, que nada mais representam do que a própria mistura presente nos espaços das feiras, com diz Rafael: “As várias linguagens que a exposição traz nada mais é do que o jogo de redimensionar as tantas vibrações que nosso corpo recebe”. Assim, a exposição pretende envolver vários sentidos dentro da subjetividade que é observar, estar atento aos movimentos.

A exposição que será montada no Veropa será constituída de um cubo sonoro, experimentação do grupo para aproximar os visitantes da feira como conjunto de paisagens sonoras, com o apio das intervenções fotográficas e audiovisuais. “Sons, fotos e corpo se misturam e juntos proporcionam a viagem. Cada pessoa que entrar terá uma experiência diferente”, conta o coordenador do projeto. A programação também conta com um bate-papo sobre paisagens sonoras com o radialista Leo Bitar e o historiador Tony Leão, no dia 19, às 9h.

Ele também destaca que, metodologicamente, a exposição é um desafio por não encerrar o caráter movente da própria sociedade: “É complicado falar de ‘uma’ metodologia por conta da dinâmica que é esse cenário sonoro, são seres humanos com estados de espíritos diversos, movimentos inconstantes e fontes sonoras das mais variadas possíveis, é tudo peculiar, identitário, mas ao mesmo tempo inconstante. Acredito que o ‘método’ não alcança o que é. São criadas metodologias várias diariamente”.

E é diariamente que esse exercício ganha forma e sentido, é no aguçar das sensações que as paisagens se constroem. Tudo em movimento. Tudo em vida. Para Rafael, essa é a validade da persistência, do não parar de conhecer e descobrir o novo no que já existe. “A constância de exercitar pode causar a ilusão da mesmice, mas compreendi através dos sons que exercitar é estar experimentando de inúmeras formas um único espaço, onde esse espaço se revela e assume essas tantas facetas. Limpar os ouvidos e movimentar junto com esse fluxo é um grande ensinamento que essa vivência me traz hoje”.

SERVIÇO | Audioexposição “O Corpo Sonoro da Feira: Cantos do Ver-o-Peso”

Data: 19 e 20 de fevereiro de 2016
Horário: de 9h às 17h
Local: Mercado do Ver-o-Peso (Boulevard Castilhos França, Belém)
Entrada gratuita
Apoio: Ná Figueredo, Coletivo Dirigível de Teatro e Associação Fotoativa
Mais informações no evento do Facebook.

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