Um movimento em defesa da cultura, da pluralidade, da liberdade, da democracia
Gustavo Ferreira

Quando um de nós prestigia um show, um filme, uma peça, um livro, uma roda de capoeira, uma batalha de MCs, uma apresentação de pássaros juninos ou do Arraial do Pavulagem, uma sessão de poesias, um cineclube, uma revista cultural, uma manifestação de rua, um ciclo de debates, um lançamento de EP, um festival de curtas locais, um sarau, uma exposição, uma festa, uma visitação a museus, um domingo de programação gratuita, uma loja de artigos artesanais, um bloco de rua, uma palestra sobre arte, uma sessão fotográfica, a cultura respira.
E respirar significa resistir, em um país onde os caminhos poucas – e tenebrosas – vezes foram tão confusos, retrógrados e sem luz.
E resistir significa gritar e chamar atenção para mais e mais golpes contra o povo e contra os artistas deste país. ARTISTAS. Com todas as letras maiúsculas, com o respeito que merece toda essa classe no Brasil, e especialmente na Amazônia, no Pará e em Belém.
ARTISTAS, que vivem para compartilhar pensamentos, diversão, criatividade e, acima de tudo, para despertar o senso crítico das suas plateias, numerosas ou esvaziadas. ARTISTAS, que batalham para executar seus projetos, que dependem majoritariamente de editais públicos (como a Lei Rouanet), pois há raríssimos investidores em cultura e arte no Brasil. ARTISTAS, que não desistem e batem de porta em porta pedindo visibilidade, pedindo oportunidades. Vagabundos? Não. ARTISTAS.
A extinção do Ministério da Cultura pelo atual governo interino do Brasil levou milhares de pessoas a, neste momento, ocuparem as sedes regionais do antigo MinC, hoje reduzido a uma secretaria do Ministério da Educação. Lembrando que o MinC não era apenas a Lei Rouanet. Conhecem o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)? A Agência Nacional do Cinema (Ancine)? O Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)? A Fundação Biblioteca Nacional? A Fundação Nacional de Artes (Funarte)? Todas são/eram ligadas à antiga pasta. Órgãos que movimentam há décadas muito do que se faz no cenário cultural do país. E nem tudo o que é feito é bom, a questão não é gosto. O que devemos analisar é o papel central desses institutos e fundações, por meio de editais principalmente, na produção cultural do Brasil nos últimos anos.
Em Belém, o movimento #OCUPAMINCBELEM começou no dia 18, e um grupo de artistas, pesquisadores e representantes de diversas classes, raças, gêneros, profissões, veículos de comunicação alternativa, todos ocupam a Representação Regional Norte do antigo MinC (Av. José Malcher, 474, esquina com a Trav. Benjamin Constant). O grupo organizado vem realizando, desde então, uma longa programação de debates, reuniões e atividades culturais de resistência, contrários à situação política do Brasil, que atingiu um dos setores mais carentes de investimentos e de respeito da nossa pátria.
Cultura é livre expressão do pensamento, é formação cidadã, é troca de ideias, é desenvolvimento de senso crítico, é informação. Não se conta a história de um povo desconsiderando o olhar cultural. Um país que não valoriza e não reconhece a cultura como elemento chave para o fortalecimento de sua soberania e para o seu desenvolvimento social não pode evoluir com transparência democrática. O grupo acampado no MicC Norte, na capital paraense, como os vários outros Brasil afora, quer o debate aberto e democrático e a reformulação de diversas políticas públicas (não apenas as culturais), com a garantia do respeito à pluralidade em todos os níveis.
Cultura é um direito humano, garantido na Constituição Federal de 1988 (Art. 215), e precisa ser valorizada, assim como a saúde pública, o meio ambiente, os serviços de saneamento básico, os planos de acessibilidade, as políticas LGBTQ, a garantia da segurança pública, e acima de tudo, a EDUCAÇÃO.
Enquanto isso ainda não é realidade plena no Brasil, as pessoas vão às ruas, vão à luta, para mostrar que sim, a cultura respira. A cultura resiste.
Acompanhe todos os passos da ocupação pela fan page OCUPA MINC BELÉM.