Cantora se inspira em sua relação com arte e misticismo para compor as faixas de seu primeiro EP, lançado no início do mês
Gustavo Ferreira

Com 22 anos de idade, Ceci já tem sim uma vasta experiência no mundo das artes. Mesmo lançando agora seu primeiro trabalho, o EP Utópico, Ana Cecília Santos se reconhece desde o berço como alguém tocado pelo palco, pelo som, pelas cores, pela poesia. As expressões de sua vocação para a música passam também pela religiosidade, e desembocam nas três canções de seu projeto pioneiro.
Inspirada pelos pais, um historiador social da música e uma pintora instintiva, Ceci começou no teatro aos doze anos, em cursos livres e oficinas. Depois, aos quinze, iniciou nas aulas de canto da Academia de Música e Tecnologia. Nesse momento ela já escrevia poesias e começava a compor suas primeiras canções. “A primeira composição foi para minha mãe, se chama ‘Flores”. Nesse período, fiz também uma para a Dona Onete, que é amiga do meu pai, e morri de vergonha de cantar pra ela [risos]”, conta Ceci.
Mas só no ano passado a verve da cantora e compositora chegou ao público: “resolvi colocar vídeos caseiros na internet cantando composições minhas. Foi quando o Marcel Barreto viu, me chamou para produzirmos uma faixa e, a partir disso, eu fui em busca da minha galera. Aí encontrei primeiro o Lucas Ferreira, e ele me apresentou ao Leonardo Pratagy. Como tenho uma enorme quantidade de composições, eles me estimularam a fazer um EP”.

Nascia, então, o EP Utópico (2017). Lançado no Youtube, Deezer e Spotify, neste mês de abril, esse projeto produzido por Lucas e Pratagy tem três canções, todas compostas por Ceci, movida pela mística e pela luta feminina. “Ainda não tive a oportunidade de mostrar outras composições que falam diretamente desse tema, mas no desenrolar do processo espero que elas cheguem até as pessoas”, explica a jovem, que também conta um pouco sobre cada faixa: “‘Beat ligeiro’ tem uma melodia muito doce e é uma expressão de carinho ao mesmo tempo em que invoco a força de Oya. Em ‘Todos os poderes’, falo da magia dos rituais. Em ‘Ele não sabe se perder’, faço uma crítica à fuga da nossa essência promovida pelo apego a referências preestabelecidas e sistemas de poder”.
O lado místico das letras de Ceci é fruto de seu envolvimento com diferentes religiões, entre elas o Santo Daime. “Acredito que o mundo dos rituais pra quem é artista é muito rico, carregado de simbologias, cores e até mesmo sonoridades diferentes do nosso cotidiano. Frequentei o Daime desde a infância até um bom período da adolescência, essa experiência me marcou profundamente”, explica a cantora.

E o som de Ceci? A voz leve combina com as melodias doces, com traços eletrônicos. É fácil reconhecer inspirações em Céu, Tiê, Mariana Aydar… “mas, para além desse eixo Rio-SP, admiro muito o trabalho de algumas cantoras e compositoras locais, como a Marisa Brito, Sammliz, Malu Guedelha, Liège, Cissa de Luna e a Lariza Xavier. Sempre amei também música africana, especialmente de Ali Farka Toure, Cesária Évora, Mayra Andrade e Lokua Kanza, e música brasileira, como Chico (Buarque), Elis (Regina), Milton (Nascimento)”.
Como o Utópico foi lançado agora, a jovem artista ainda está começando a planejar os próximos passos, nada utópicos. É de verdade. “Como pretendo articular muitos elementos no show, eu e meus produtores (Lucas Ferreira e Leonardo Pratagy) estamos definindo o formato e por isso ainda estamos sondando algumas possibilidades. Não temos nada fechado, mas logo vamos comunicar o show de estreia”. Aguardamos. Segue então, Ceci.