França vence a Croácia em um dos melhores jogos da Copa e conquista o bicampeonato mundial, vinte anos depois
Gustavo Ferreira

Eles sempre estiveram entre os favoritos, entre os mais badalados, os mais cotados para o título. Nas condições normais, eles poderiam passear. Mas quem passearia numa Copa onde os favoritos, os badalados, os mais cotados, sofreriam tanto? Bastaram alguns jogos, a primeira fase, e os gigantes começaram a cair, como se faltasse força, ou mesmo humildade para entender que o futebol mudou. A Rússia que estreou metendo cinco gols, a Coreia do Sul derrubando a atual campeã – cada um com o seu 7 a 1 -, os espanhóis sucumbindo… A Copa de 2018 se desenhava para um desfecho inédito, surpreendente.
E assim foi. Os belgas, no auge de sua geração, nos tiraram do Mundial para entrarem na história com o bronze. Os ingleses, sempre coadjuvantes mesmo campeões, voaram longe. E a seleção que sempre foi conhecida mais pelo uniforme diferente do que pelo futebol mostrou que podia, sim, conquistar o planeta. Era a Copa do imprevisível, das apostas rasgadas, da falha dos prognósticos…
Mas, no fim, brilhou mesmo a estrela dos favoritos, dos badalados, dos mais cotados. Quem levou estava em todas as listas de “Quem leva”. O grito demorou duas décadas pra voltar a ecoar pelos céus azuis do mundo, mas a hora chegou. Novamente comandada por Didier Deschamps – hoje treinador, em 98 o capitão – a França conquista o título mundial.
O agora bicampeão Deschamps, inclusive, entrou em um grupo muito pequeno. Ao lado do alemão Beckenbauer e do nosso Zagallo, o francês é o terceiro homem no mundo a conquistar a Copa como jogador e como treinador. O trabalho de 2018 foi muito bem feito, por um grupo jovem e muito talentoso. E que também contou com a sorte em alguns momentos.

Foi contra, de Mandzukic, o gol que abriu o placar no Estádio Luzhniki, em Moscou. O jogo só tinha 17 minutos. Aos 27 a Croácia empatou com Perisic. E aos 33 veio ele, o nome da Copa: o VAR. O argentino Nestor Pitana recorreu ao recurso do árbitro de vídeo para dar o pênalti que Griezmann converteu, aos 33. O primeiro tempo terminou 2 a 1 França.

E o segundo tempo foi de mais intensidade, com a Croácia tomando conta, pressionando, subindo pra tentar o empate… Até que Pogbá aproveitou uma bola no contra-ataque e fez o terceiro dos bleus. Subasic, goleiro croata elogiado por sua performance no torneio, não pulou. Bem como no quarto gol, aos 19 minutos. Mbappé recebeu de Hernandez e abriu a goleada. Mesmo com o gol – dessa vez a favor – de Mandzukic, em uma falha bizonha do goleiro Lloris, os franceses não se abalaram. O segundo tempo também terminou 2 a 1 França. Final de jogo: França 4, Croácia 2.

A Croácia, que veio de três prorrogações seguidas, não teve mais tempo dessa vez. Ficou com o vice-campeonato, um resultado muito honroso, o melhor da história croata em Copas. O craque desse Mundial foi deles, o monstro Modric. Prêmio individual que coroa o trabalho de uma equipe guerreira, que foi em todas as bolas, e mostrou a importância de não desistir.

Não desistir, aliás, pode se encaixar bem como um mantra francês nos últimos anos. Em 2016, a derrota na final da Euro para Portugal em pleno Stade de France, poderia ser um marco negativo para o grupo. Foi o contrário. A sede de títulos aumentou, e foi o motor para que essa geração entrasse para o rol dos melhores times de todos os tempos.
A chuva forte que caiu em Moscou, após o fim do jogo, lavou a alma e se misturou às lágrimas de uma nação inteira. O papel picado dourado enfeitou as imagens que não vão sair da memória dos franceses. Do céu e dos pés desses jovens campeões, caiu a segunda estrela no escudo. E agora, onde houver um francês, há festa. Na Copa das surpresas, o favoritismo se transformou em glória.
